Com cheia de rio, médico de Tarauacá atende bebê dentro da água: ‘tentar amenizar o sofrimento’, diz

Foto do médico Rodrigo Damasceno atendendo bebê de dois anos que está com pneumonia dentro da água viralizou nas redes sociais. Enchente do Rio Tarauacá já desabriga mais de 400 pessoas. Por Aline Nascimento, G1 AC — Rio Branco

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A cidade de Tarauacá, no interior do Acre, sofre uma das maiores enchentes de sua história. Mais de 90% do município está inundado e mais de 400 pessoas estão desabrigadas. Em meio ao caos, uma imagem que mostra o médico Rodrigo Damasceno atendendo um bebê, que está com pneumonia, dentro da água viralizou nas redes sociais e chamou a atenção.

O rio está com o nível de 11,05 metros, de acordo com a medição do Corpo de Bombeiros feita às 6 horas deste sábado (20). A cota de transbordo é de 9,50 metros, ou seja, o rio está 1,55 acima do nível máximo estipulado para transbordar. A maior cota já registrada na cidade foi 11,93, em 2014.

A foto mostra o médico com a água acima da cintura, ouvindo os batimentos de uma criança com um estetoscópio, enquanto a mãe segura o filho no colo dentro de uma canoa. A família mora na Rua Manoel Lorenço, no bairro da Praia, um dos primeiros atingidos pela enchente na cidade. O G1 não conseguiu contato com a família.

O registro foi feito pelo fotógrafo Lucas Melo na quinta-feira (18), que acompanhava a equipe do médico nos atendimentos.

“A maior dificuldade em consultar é deixar um barco próximo ao outro. Então, é mais fácil ficar fora e dentro da água e consultar as pessoas dentro do barco, assim, temos uma mobilidade melhor. É a maior alagação que vivenciei no município e que está afetando mais as pessoas. Essa criança tem dois anos e está com pneumonia. Conseguimos remédios com uma farmácia local e saímos também distribuindo a medicação, porque não adianta dar só a receita se a família não tem condições de comprar”, contou o médico.

Segundo a Defesa Civil de Tarauacá, há 80 famílias desabrigadas e 35 desalojadas. Foram montados oito abrigos para atender os moradores que precisaram sair de casa. Pelo menos 7 mil famílias, o que representa em média 28 mil pessoas, estão atingidas pelas águas do rio. Nove bairros da cidade já foram afetados, além de parte da BR-364, que dá acesso à cidade.

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Tarauacá está com 70% da área alagada com a enchente do rio que leva o mesmo nome — Foto: Gleydison Meireles/Arquivo pessoal

Assistência

 

O médico, que também é ex-prefeito de Tarauacá, explicou que a família da criança não saiu de casa, mesmo com a água dentro da residência. A mãe do menino falou para a equipe médica que tem medo de sair do local e furtarem os móveis.

Para Damasceno, o momento é de buscar os pacientes, ir nas casas oferecer ajuda, porque a maioria das pessoas está isolada nos bairros e não pode sair para procurar atendimento. Além disso, ele disse que muitas unidades de saúde estão inundadas.

“A gente tem tentado atender da forma que é possível, se for dentro da água vamos; se for nas casas também entramos; se for situação de um local mais afastado também vamos, porque as pessoas estão isoladas. No lugar de estarem procurando os médicos, atendimentos, nós que temos que procurar porque estão isoladas. Mais da metade dos postos de saúde está debaixo d’água , então, até para procurar os atendimentos é difícil, é algo que compromete o funcionamento básico de uma cidade”, lamentou.

Em visita em alguns bairros, Damasceno contou que encontrou famílias que não tinham o que comer. Além da enchente, a cidade enfrenta um surto de dengue. “O povo está passando uma necessidade grande, acabou o auxílio emergencial, hoje fui em uma casa entregar sopa que o pessoal não tinha tomado café e nem almoçado. Só iam comer a sopa. O que estamos tentando fazer é amenizar o sofrimento, levando uma sopa, atendimento, pão, para ver se consegue ajudar uma parte da população”, acrescentou.

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Mais de 400 moradores estão desabrigados em Tarauacá — Foto: Gleydison Meireles/Arquivo pessoal

Impotência

 

Médico há 14 anos, o profissional revelou que o sentimento diante da situação é de impotência por não conseguir ajudar mais e aliviar o sofrimento da população. Mesmo assim, ele falou que segue oferecendo o que pode, seja um atendimento médico, um remédio ou um prato de sopa.

“É um misto de sentimento, de esperança, porque estamos tentando ajudar, mas também de impotência, porque a força da água é muito grande. Estamos em uma encruzilhada, o pouco que fazemos não vai resolver todos os problemas, mas fazemos nossa parte. Teve uma pessoa hoje, quando fomos distribuir a sopa, que falou: ‘doutor, a gente quer que a água baixe’. Falei que não podia ajudar dessa forma, mas com um atendimento e sopa podia”, relembrou.

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