Antes de partir, Guilherme ouviu “te amo, vovô” e parabéns no CTI

Sem saber que seria a despedida, os filhos, netos, genros, esposa e ex-mulher falaram com Guilherme sobre saudades e abraços

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Guilherme com a neta Paloma recém-nascida, oito anos atrás (Foto: Arquivo Pessoal)

“Oi, feliz aniversário!”. Com a voz doce de Paloma, de 8 anos, uma das netinhas, começa o áudio de 8 minutos e 40 segundos que a família gravou para o jornalista Guilherme Filho. No último dia 23, o pai, avô e amigo completou 64 anos sedado e intubado no CTI da covid do Hospital El Kadri, em Campo Grande, mas nem por isso passou o aniversário sem o carinho. Teve parabéns cantado pela equipe do hospital, além de mensagens que trouxeram todo o amor e a fé de fora para dentro do leito de internação.

Sem saber que aquela seria a despedida, os filhos, netos, genros, esposa e ex-mulher falaram com Guilherme sobre saudades, amor e abraços. “Oi, pai, feliz aniversário. Tomara que você melhore logo, eu tô morrendo de saudade de você”, dizia uma das filhas, Andreia Zurutuza.

O neto Vitor, de 11 anos, que adorava jogar xadrez com o avô e o aguardava em Belém (PA) disse: “Oi, vô, feliz aniversário. Espero que você melhore muito, porque eu queria muito ficar com você nesse Natal. Então, melhoras pra você”.

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Alexandre, 2 anos, Vitor, 11 anos, e José, 3 anos posando para a foto com o avô Guilherme numa tarde quente em Balém do Pará (Foto: Arquivo Pessoal)

De Belém, onde morava parte dos filhos e netos de Guilherme, um dos genros que se intitula como o “preferido” diz que está com saudades e que os dois têm muito a prosear ainda.

Ao som de violão, as falas que transmitem esperança também provocam risos pela ingenuidade do “vovô, eu te amo, não demola“, dito pelo netinho José, de 3 anos.

Representando a CBN, rádio onde Guilherme Filho trabalhava, o jornalista Marcus Moura diz que o aniversário era do colega, mas o presente todos os anos era de quem convivia com ele. “O aniversário é seu, mas o presente todos os anos é nosso de ter uma pessoa muito maravilhosa como você nas nossas vidas”.

A corrente de fé e amor que Guilherme Filho somou esforços no estoque de sangue do Hemosul. O jornalista chegou a precisar de doação e pelo menos 50 pessoas foram logo no primeiro apelo da família.

Anahi Zuturuza, uma das filhas e que seguiu a carreira do pai, pedia na mensagem que ele colocasse muita fé e força e que lutasse com todas as armas para sair. “As pessoas mais distantes possíveis estão torcendo por você. Tem muita gente rezando por você, uma corrente do bem gigantesca e de todas as religiões. A gente quer te abraçar, te beijar, quer te ver aqui fora e cantar os parabéns pra você, desejar Feliz Natal, gritar Feliz Ano Novo. É isso que a gente quer, nem que seja em janeiro ou qualquer dia, a gente vai fazer festa quando você voltar”.

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Avô, Guilherme vivia assoviando e como passarinho voou para o céu na noite de ontem; no colo está com a neta Marina (Foto: Arquivo Pessoal)

Guilherme não voltou. Foram 22 dias lutando contra a covid-19. Hospitalizado desde o dia 8 de dezembro, o jornalista precisou ser intubado no dia 15, e nessa quarta-feira (30) o estado de saúde se agravou.  Ele faleceu na noite de ontem (30), deixando cinco filhos, cinco netos, mulher e ex-esposas que o amam muito.

O coma – Responsável técnico da clínica médica do Hospital El Kadri, onde Guilherme Filho ficou internado, o médico Marcelo Santana Silveira explica que o jornalista estava em coma induzido, como é popularmente conhecida a sedoanalgesia. Na escala de Rass, como é nominada a avaliação do quanto o paciente está inconsciente, o nível máximo de sedação é -5, índice no qual, teoricamente, o paciente estaria totalmente sedado e sem nenhuma resposta.

No entanto, sabemos muito pouco da mente do ser humano e seus mistérios e a gente sabe que os pacientes, quando escutam mesmo que inconscientemente a voz de um familiar, muitas vezes é uma forma de trazer carinho para o consciente dessa pessoa. Isso não é nada científico, é o que a gente sente mesmo”, fala o médico.

Para aqueles que acreditam, o médico também fala da questão espiritual como de extrema importância, principalmente no cenário pandêmico, quando visitas não são permitidas. “A doença é tão pesada que quando o paciente falece, se tiver em período de contágio da covid-19 ainda, não é nem autorizado que a família veja. Isso pra gente é extremamente triste, porque a gente se coloca no lugar e sabe quão pesada é a situação. No hospital, fazemos um trabalho com familiares para tentar trazer um pouco de paz e informar como está o paciente e responder as dúvidas”, conta Marcelo.

É prática dos centros de terapia intensiva levar mensagens de familiares e conversar com o paciente mesmo em coma. “Essa questão de levar mensagem através dos enfermeiros e técnicos é muita humana. A gente tem que entender que essa doença não é só o paciente que adoece, como qualquer outra, adoece também quem está em volta dele, que está em uma situação delicada e não está podendo conversar. Os boletins são diários, ou seja, passam 24h sem que a família saiba dele. Obviamente a gente entende essa questão e tenta minimizar um pouco no dia a dia”, ressalta.

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Guilherme e a filha Anahí ainda criança (Foto: Arquivo Pessoal)

Homenagens – Conhecido em toda imprensa regional, Guilherme Filho trabalhou no extinto Diário da Serra, comandou a comunicação do governo do Estado durante as gestões dos ex-governadores Wilson Martins e André Puccinelli, teve passagem pela Assembleia Legislativa, e havia assumido a direção de jornalismo da CBN Campo Grande.

Nas redes sociais, as homenagens dos colegas e amigos remontam a trajetória na profissão e também na vida de Guilherme.

Profissionais de outras áreas, como o advogado André Borges, renderam homenagens. “Guilherme Filho para mim representa bem o jornalista pantaneiro: inteligente, dedicado, honesto, cordial e de conversa sempre espirituosa e agradável”, declarou.

O governo do Estado soltou a seguinte nota de pesar pela morte do jornalista:

A Subsecretaria de Comunicação Social do Governo do Estado de Mato Grosso do Sul lamenta com pesar a morte do jornalista Guilherme Filho pela Covid-19. Guilherme percorreu todas as áreas do jornalismo de Mato Grosso do Sul, das redações de impressos, passando por televisão até chegar às rádios. Comandou a Comunicação da Assembleia Legislativa, Prefeitura Municipal de Campo Grande e Governo do Estado. A morte de Guilherme Filho abre lacuna no jornalismo de Mato Grosso do Sul, mas deixa legado de amor e fé na profissão“.

O MDB, partido para o qual Guilherme trabalhou em campanhas políticas, também divulgou em nome dos presidentes do partido no Estado e na Capital, Júnior Mochi e Ulisses Rocha.

Infelizmente neste ano de tantas perdas, a COVID-19 fez mais uma vítima levando o jornalista Guilherme Filho. O MDB lamenta o falecimento deste profissional que tanto contribuiu para a imprensa de Mato Grosso do Sul e também para o crescimento do partido durante as décadas que andou conosco, realizando um trabalho exemplar. 

Guilherme Filho deixa um legado na imprensa sul-mato-grossense e também na política do Estado. Sempre atuante nos bastidores era conhecido por sua inteligência e carisma. O MDB deseja que Deus conforte toda a família e que Guilherme descanse em paz! Obrigado por estar ao nosso lado durante tanto tempo e por tudo que nos ensinou!“, encerra a nota.

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