ARTIGO: Tratamento precoce na covid-19: sim ou não!? Polêmica válida, mas não a mais importante – por Dr. Geraldo Pinho

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Foto: Arquivo pessoal

Diante da pandemia que o novo coronavírus trouxe ao mundo, muitas questões e polêmicas foram postas e levantadas, em um debate muitas vezes calorosos e acirrados. Dentre elas, a adoção ou não do tratamento precoce na covid-19.

Antes de mais nada, queria me posicionar e proferir opinião pessoal: sou a favor. Médico e paciente, numa relação de confiança e comunhão, com a devida informação e esclarecimentos dos benefícios e riscos de cada medicação, dentro do contexto da individualidade do paciente e do caso, podem e devem instituir tratamento precoce, se assim for a decisão conjunta tomada.

Mas acredito que esse debate e polêmica são rasos e superficiais! O mais importante está mais profundo, em camada mais abaixo.

Ficou escancarado a deficiência das redes de saúde em ofertar a melhor assistência possível à população. Faltas de leitos, UTIs, insumos, EPIs, como de tantas outras coisas, ficaram evidenciadas.

Do que adianta, às vezes, a discussão do tratamento precoce ou não, se nem todos os médicos e pacientes tem o remédio à disposição? Como vou prescrever tal droga se em determinada rede de saúde não tem?

Aqui chego no ponto crucial de minha análise, onde considero que o debate deveria estar sendo realizado: *qualidade e eficiência dos nossos modelos de atenção à saúde.* A pandemia, de uma forma ou de outra, irá passar. Seguirá seu rumo. Seja por descoberta de uma droga eficaz na cura ou pela chegada de uma vacina (que está próxima). A imunidade chegará em algum momento. Mas aí fica a questão: e a humanidade!?

Precisamos dos serviços de saúde 7 dias por semana, 24 horas por dia. A falta de gestão, eficiência e planejamento seguirão presentes, mesmo após o encerramento da pandemia.

Temos nas mãos, mais uma vez, uma oportunidade ímpar de se discutir e pensar a saúde de uma forma mais abrangente e ampla! É essa saúde que queremos para nós? Para nossos amigos e familiares? Para a população?

Não falo apenas dos quesitos materiais e logísticos, mas sobretudo do fator humano! Profissionais de saúde mal remunerados, jornadas de trabalho excessivas, desmotivados e quase sempre desvalorizados pelas gestões.

Que após a imunidade, tratemos e lutemos de humanizar a saúde e daqueles que estão inseridos nela. Que os salários sejam justos e condizentes, que as horas trabalhadas sejam adequadas, que o profissional seja sempre valorizado, em capacitação e reciclagem constante. Que tenha perspectiva de crescimento, de carreira… Porque não!?

Que não falte nada: desde leitos à medicação, desde UTIs a EPIs.

Que as gestões sejam pautadas no planejamento, eficiência e boa governança. Baseadas em indicadores e métricas. Que a qualidade e resultados sejam os nortes e lemas.

Isso que temos que discutir, esse tem que ser o debate. O covid irá embora, mas todas as outras doenças e mazelas permanecerão.

Enquanto isso não acontece, esperamos ansiosamente o fim da pandemia. Mas, sobretudo, sonhamos com uma saúde melhor, maior e mais humana! Para toda população e para os profissionais de saúde.

Dr. Geraldo Pinho
Médico radiologista
CRM/RN: 6921
RQE: 3682

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