De morcegos a visons: Como doenças passam de animais para humanos?

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Do ponto de vista da origem da transmissão, pesquisadores chineses identificaram que o novo coronavírus surgiu em morcegos, desecandeando uma das maiores pandemias da história da humanidade.

Um fenômeno chamado “transbordamento zoonótico” fez com que um tipo de coronavírus que acomete morcegos sofresse mutação e passasse a infectar humanos.

Mais recentemente, no início de novembro, o governo da Dinamarca anunciou o sacrifício de todos os visons de criadouro para erradicar uma nova mutação do coronavírus.

Até o momento, acredita-se que mais de 10 milhões da espécie tenham sido mortos, e a nova cepa é considerada ‘praticamente erradicada’, segundo órgãos de controle dinamarqueses.

A mutação havia sido encontrada em alguns animais e doze humanos, e os sintomas não eram muito diferentes da Covid-19 mais conhecida e nem mais agressivos. Mas, como medida sanitária, a primeira-ministra Mette Frederiksen decidiu ir em frente com o abate.

Cesar Alejandro Rosales Rodriguez, doutor em medicina veterinária (Epidemiologia Experimental e Aplicada às Zoonoses) e professor do curso de Medicina Veterinária da Universidade Anhembi Morumbi, explica que a decisão pode ter sido um pouco precipitada, e que mais pesquisas sobre a mutação do SARS-CoV-2 poderiam ter sido feitas antes do abate.

“A medida parece drástica, mas é uma atitude relativamente compreensível devido ao momento de pandemia e alarde em que vivemos”.

O novo coronavírus, assim como uma série de outras doenças que conhecemos, são zoonose: doenças que podem ser transmitidas naturalmente de animais para humanos.

Essas enfermidades podem ser causadas por microorganismos como vírus, bactérias, fungos e protozoários.

Alguns exemplos, além do próprio SARS-CoV-2, são a tuberculose, que é uma mutação da bactéria causadora da tuberculose bovina, a teníase, famosa por ser transmitida pela carne mal-cozida de animais como o porco, e a leptospirose.

Elas podem ser transmitidas das mais diversas formas, a depender do organismo transmissor.

O fenômeno de quando um patógeno se adapta e é transmitido de uma espécie para a outra é conhecido como spillover pelos pesquisadores.

O ‘transbordamento’ ocorre por meio de pequenas mutações no microorganismo que tornam possível que ele infecte um novo hospedeiro.

Para que consiga fazer isso, tem que vencer diversos obstáculos. Entre eles, a quantidade de vírus presente no hospedeiro e o contato entre as duas espécies.

Esse último fator pode estar sendo facilitado pelas populações humanas. Especialistas indicam que um maior contato entre humanos e animais vertebrados pode tornar o caminho dos patógenos mais curto.

O contato é aumentado em diversas frentes. O consumo de carne de animais selvagens ou de origem não verificada podem ser facilitadores da contaminação por cepas de vírus e bactérias ainda inexploradas.

Pesquisadores da área da Biologia também alertam para a degradação de biomas como uma das causas do aparecimento de novas zoonoses.

Quanto mais as pessoas e cidades avançam para o terreno de vegetações, maior o contato entre os seres humanos e as espécies locais.

Além disso, quanto maior o desmatamento, chega-se mais próximo de áreas não exploradas, onde podem se esconder milhares de patógenos desconhecidos.

O número de potenciais zoonoses existentes na natureza é uma incógnita, mas Rodriguez destaca que muitos estudos estão voltados para assunto.

“Em todo o mundo existem órgãos especializados na fiscalização de novos patógenos e, no Brasil, apesar de não termos um órgão voltado apenas para isso, as universidades e institutos fazem pesquisas ostensivamente”.

As zoonoses são consideras, no Brasil, como um problema de saúde pública, portanto, são supervisionadas por órgãos da área.

Rodriguez destaca alguns mecanismos de controle nacionais. “Algumas doenças, quando diagnosticamos um novo caso, somos obrigados a reportar para órgãos da saúde. Tanto em humanos quanto em animais. Dessa forma, é possível manter um controle dos dados daquele patógeno no país”.

A vacinação e controle da saúde de animais domésticos e daqueles criados para o abate são essenciais para evitar novos casos de transmissão.

Já para os animais selvagens, a pesquisa e os avanços em tecnologias voltadas à saúde pública e são os agentes mais importantes para se evitar fenômenos do tipo.

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