Fernández e Cristina Kirchner sofrem derrota contundente em eleições primárias na Argentina

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Foto: MAXIMILIANO LUNA / AFP/12-9-21

Nem os mais pessimistas dentro do governo, ou as pesquisas mais adversas para a Casa Rosada, previram a surra eleitoral que o governo do presidente argentino, Alberto Fernández, levou nas Primárias Abertas Simultâneas e Obrigatórias (Paso), realizadas no último domingo para eleger os candidatos que disputarão vagas na Câmara e no Senado nas eleições legislativas do próximo dia 14 de novembro.

Foi a pior eleição para o peronismo unido — em muitos momentos, após a redemocratização do país, em 1983, o movimento se fragmentou — desde as legislativas de 1997, na reta final do governo de Carlos Menem (1989-1999). Em palavras de Ignácio Labaqui, professor da Universidade Católica Argentina (UCA), o país foi cenário de uma onda de castigo nacional contra a gestão de Fernández e sua vice-presidente, Cristina Kirchner.

A aliança governista Frente de Todos ficou em primeiro lugar em apenas seis dos 24 distritos eleitorais argentinos (23 províncias e a capital do país), sendo derrotada até mesmo na província de Buenos Aires, onde vive um terço do eleitorado nacional e onde Cristina tinha, até agora, seu feudo político mais fiel.

— Um empate na província de Buenos Aires já era um cenário ruim, mas que o peronismo unido perdesse era algo que ninguém imaginava — afirma Labaqui.

A principal candidata da aliança governista na província mais importante do país, Victoria Tolosa Paz, afirmou nesta segunda-feira que o governo recebeu “um tapa na cara”. Na noite de domingo, Fernández admitiu que “evidentemente cometemos erros” e assegurou que “nada é mais importante do que ouvir o povo, quando o povo se expressa é um dado que levamos muito a sério”. Ao seu lado estava Cristina, que permaneceu em silêncio.

Nesta segunda, em meio a uma enxurrada de críticas ao governo e com os mercados em alta pelo bom resultado conseguido pela aliança opositora Juntos pela Mudança, o chefe de gabinete, Santiago Cafiero, enfatizou que “a governabilidade não está em jogo. Estamos comprometidos com ouvir a mensagem das urnas”.

As primárias são realizadas para eleger os candidatos que disputarão as legislativas. Este ano, será renovada metade da Câmara e um terço do Senado. O que este ensaio eleitoral mostra é uma tendência, já que é uma votação obrigatória, na qual os argentinos antecipam suas preferências. A participação ficou em torno de 68%, apenas um pouco abaixo dos 72% alcançados nas primárias prévias às legislativas de 2017.

Se o resultado se confirmar nas urnas em novembro, a governista Frente de Todos poderia perder seis senadores — e, com isso, o controle da Casa — e nove deputados. A Frente de Todos (coalizão entre peronistas e kirchneristas), tem 120 cadeiras na Câmara, de um total de 257, e seu objetivo em novembro era manter 52 e, no melhor dos cenários — agora totalmente descartado —, ampliar sua bancada para alcançar uma maioria (129 votos).

Já a oposição, que hoje tem 115 deputados, esperava preservar as 60 cadeiras conquistadas nas legislativas de 2017 e agora sonha com ampliar sua bancada. No Senado, que tem 72 integrantes, o governo, atualmente com 41 cadeiras, precisa renovar 15, mas poderia preservar apenas 9. A aliança opositora, por sua vez, que tem hoje 25 senadores, conseguirá renovar nove e, possivelmente, aumentar sua prensença na casa presidida por Cristina.

— O governo sofreu uma surra eleitoral, perdendo em muitos distritos governados pela aliança Frente de Todos. No Senado, deverá negociar para aprovar projetos e na Câmara ficará numa situação mais difícil — explica Carlos Fara, diretor da Fara e Associados.

Crise econômica gravíssima

O que explica esta onda de castigo nacional? Diversas razões, entre elas a gravíssima crise econômica (em 2020, o PIB despencou 10%), a deterioração da situação social (a taxa de pobreza oficial é de 44%, mas economistas estimam que a real está próxima de 50%), a má administração da pandemia (o país já acumula 113 mil mortos) e escândalos envolvendo até mesmo o presidente e a primeira dama, que festejaram uma festa de aniversário em plena pandemia e enquanto a Casa Rosada exigia rigorosas medidas de isolamento social à população.

Entre os opositores, um dos principais vencedores foi o chefe de governo da cidade de Buenos Aires, Horacio Rodríguez Larreta. Seus candidatos ficaram em primeiro lugar na capital e na província de Buenos Aires, resultado que transforma Larreta numa nova liderança consolidada na Juntos pela Mudança, com um claro projeto de disputar a Presidência em 2023.

O Globo

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