Professor denunciado por manter diarista em condições análogas à escravidão é afastado de universidade em Patos g1

Fantástico mostrou que mulher era mantida há 38 anos sem registro ou salário mínimo garantido. Denunciado trabalhava na Unipam, que emitiu nota; advogado de defesa também se posicionou.

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O professor universitário Dalton César Milagres Rigueira, que é investigado por suspeita demanter uma mulher em condições análogas à escravidão em Patos de Minas, foi afastado das funções conforme divulgou a Fundação Educacional de Patos de Minas (Fepam), entidade mantenedora do Centro Universitário de Patos de Minas (Unipam).

Segundo denúncia divulgada pelo Fantásticoneste domingo (20), o Ministério Público do Trabalho (MPT) resgatou a diarista Madalena Gordiano da casa da família, onde ela trabalhava sem registro em carteira, nem salário mínimo garantido ou descanso semanal remunerado.

O advogado de defesa da família emitiu nota de posicionamento (veja abaixo).

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Professor para quem Madalena Gordiano trabalhava em Patos de Minas foi afastado das funções, segundo universidade — Foto: Repodução/Fantástico

Conforme a Unipam e Fepam divulgaram nesta segunda-feira (21), medidas cabíveis e legais já estão sendo tomadas e o professor já se encontra afastado das atividades na instituição.

Também esclareceram que tomaram conhecimento da informação pela mídia e que “não comungamos com os atos ali relatados”, diz o comunicado.

 

Família se posiciona

 

Por meio de nota, o advogado Brian Epstein Campos, que defende a família Milagres Rigueira, enviou um posicionamento . Veja íntegra abaixo.

“Com respeito a todas as interpretações e ao direito de manifestação possíveis e válidas numa democracia, a defesa informa que ainda não teve acesso a todos os elementos que envolvem a senhora Madalena. A divulgação prematura e irresponsável, pelos fiscais e agentes do Estado, antes de um processo que por sentença reconheça a culpa, viola direitos e dados sensíveis daquela família e vulnera a segurança pessoal deles. A defesa seguirá, discreta e séria, atuando exclusivamente nos limites constitucionais e do Devido Processo Legal. Estamos em um momento de confraternização cristã e uma reflexão cautelosa, após conhecimento de todos os fatos nunca criará prejuízos.”

 

Investigação

 

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Mulher é libertada em Patos de Minas após 38 anos vivendo em condições

Neste domingo (20), o Fantástico contou a história de Madalena Gordiano, que trabalhou desde os 8 anos na casa da família Milagres Rigueira, em Patos de Minas.

Segundo investigação do Ministério Público do Trabalho (MPT) e Polícia Federal, ela viveu por 38 anos em condições análogas à escravidão. Foi apurado que a diarista, que é negra e não terminou os estudos, morava na casa dos patrões, não tinha registro em carteira, nem salário mínimo garantido ou descanso semanal remunerado.

Segundo o auditor fiscal Humberto Moteiro Camasmie, ela dormia em um quarto pequeno e sem janelas. “Era um quarto com menos de 3 metros de comprimento por 2 de largura, abafado e sem ventilação”.

A diarista trabalhou primeiro para a matriarca da família e depois para o filho, que é professor universitário. No dia 27 de novembro ela foi resgatada do apartamento, no Centro da cidade, e agora está em um abrigo para mulheres vítimas de violência.

Segundo o MPT, os responsáveis são investigados por submeter uma pessoa à condição de trabalho análogo ao escravo e tráfico de pessoa. Também podem responder por apropriação indébita e a pena pode chegar a 20 anos de prisão.

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Diarista dormia em um quarto sem janelas e não tinha salário mínimo garantido ou descanso semanal remunerado. — Foto: Reprodução/Fantático

História de vida

 

Madalena Gordiano contou ao Fantástico como chegou até a família. Com 8 anos, ela bateu na porta da casa da professora Maria das Graças Milagres Rigueira para pedir comida.

 

“Fui lá pedir um pão, pois eu estava com fome, ela falou que não me dava se eu não morasse com ela”.

 

A moradora de Patos de Minas que se ofereceu para adotá-la e a mãe de Madalena, que tinha nove filhos, concordou. Mas a adoção nunca foi formalizada. A diarista contou que, quando chegou à casa nova, deixou a escola.

“Ajudava a arrumar a casa, cozinhar, lavar banheiro, passar pano na casa. Não brincava, não tinha nem uma boneca”, falou Madalena.

Depois de 24 anos, a diarista foi trabalhar para o filho de Maria das Graças, o professor Dalton César Milagres Rigueira, onde vivia nas mesmas condições e de onde foi resgatada.

Um vizinho, que preferiu não se identificar, contou sobre o trabalho da vítima. “Ela acordava umas 4h para passa roupa. Ninguém deles podiam ver ela conversando com alguém do prédio. Você via que ela ficava com medo quando alguém chegava perto”, contou.

 

Denúncia

 

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Madalena Gordiano deixou bilhetes no apartamento de vizinhos, o que chamou atenção — Foto: Reprodução/FantásticoSegundo o MPT, os vizinhos desconfiaram da situação depois que Madalena deixou bilhetes debaixo da porta dos moradores do prédio pedindo pequenas quantias em dinheiro para comprar kits de higiene pessoal.

 

“A família tinha uma vida economicamente tranquila e ao mesmo tempo tinham uma pessoa que morava no local, trabalhava pra eles e que estava precisando de produtos básicos. Isso chamou muita atenção da vizinhança” falou o auditor fiscal Humberto Moteiro Camasmie.

 

O resgate ocorreu no dia 27 de novembro, com apoio da Polícia Federal.

Segundo apurado pelo Fantástico, Madalena chegou a se casar com o tio da esposa do professor, mas nunca morou junto com o companheiro.

Ele era ex-combatente das forças armadas e morreu pouco tempo depois, deixando duas pensões de aproximadamente R$ 8 mil por mês. Ela não recebia esse dinheiro e contou que o patrão controlava a conta dela. “Me dava R$ 200 ou R$ 300 por mês”, disse.

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