Rússia condena historiador que investigou crimes de Stalin a três anos e meio de prisão

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Foto: ANTON VAGANOV / REUTERS

O historiador russo Yuri Dmitriev, conhecido por suas pesquisas sobre a repressão no regime de Josef Stalin e que revelou crimes do ditador soviético, foi condenado nesta quarta-feira a três anos e meio de prisão sob a acusação de ter abusado sexualmente de sua filha adotiva. A decisão foi contestada pela defesa do historiador, Viktor Anufriev, e por seus apoiadores, que alegam perseguição política pelo trabalho de Dmitriev.

A Justiça da Rússia afirmou que, apesar da condenação, o historiador de 64 anos será solto em novembro deste ano, porque já cumpriu a maior parte da pena preventivamente. Ele está preso desde junho de 2018.

A acusação tentava uma pena de 15 anos de prisão para Dmitriev pelos crimes que teriam acontecido entre 2012 e 2016. A decisão da Justiça, tendo sido mais branda do que o desejado pela Promotoria, é passível de recurso por seu advogado e foi contestada pelos apoiadores de Dmitriev, que afirmam que o historiador foi condenado por um crime grave que não cometeu.

Um primeiro julgamento, feito em 2018, o isentou de acusações de pornografia infantil envolvendo sua filha adotiva. Mas essa decisão foi anulada e ele foi preso sob uma nova acusação logo depois.

A organização de direitos humanos onde Dmitriev trabalhava, Memorial, disse que as acusações eram infundadas e que a sentença desta quarta-feira é injusta.

“Essas acusações já tiraram mais de três anos de liberdade de Yuri Dmitriev e prejudicaram o destino de sua filha adotiva”, disse a Memorial em comunicado.

Outros historiadores, ativistas de direitos humanos e algumas figuras culturais importantes do país dizem que Dmitriev está sendo condenado porque seu foco nos crimes de Stalin se tornou politicamente insustentável na Rússia moderna, onde a narrativa dominante do Estado é de uma grande nação que estava de joelhos e se ergue.

Seus defensores alegam que o verdadeiro crime do historiador foi se dedicar a documentar o grande expurgo de Stalin, entre 1937 e 1938, no qual quase 700 mil pessoas foram executadas, segundo estimativas oficiais conservadoras. Em suas pesquisas, Dmitriev encontrou uma vala comum após o colapso da União Soviética, contendo milhares de corpos mantidos na rede de campos de prisioneiros soviéticos, os gulags.

O Kremlin disse que não tem envolvimento na condenação de Dmitriev. Questionados sobre a motivação política do caso, os promotores estaduais disseram que as denúncias foram baseadas em evidências reais.

O Globo

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