Sars-CoV-2 usa saliva para infectar outras partes do corpo, sugere estudo; entenda o “além do óbvio

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(Foto: Divulgação/Paola Perez, PhD, Warner Lab, NIDCR)

Vários estudos já investigaram a relação entre o vírus da Covid-19, o Sars-CoV-2, e possíveis sequelas na boca, como perda de paladar e o aparecimento de bolhas. Mas, pela primeira vez, uma equipe internacional de pesquisadores encontrou evidências de que o coronavírus não só afeta a cavidade oral como também usa a saliva para atingir outras partes do corpo, caso dos pulmões e do próprio sistema digestivo.

A pesquisa, publicada nesta quinta-feira (25), no jornal científico Nature Medicine, foi liderada pelos Institutos Nacionais da Saúde (NIH) e pela Universidade da Carolina do Norte em Chapel Hill, nos Estados Unidos. Os autores acreditam que o potencial do Sars-CoV-2 para infectar várias partes do corpo pode explicar os sintomas orais relatados por pacientes ao redor do mundo.

Já se sabia que a saliva de pessoas infectadas pode conter altos níveis do vírus, afinal, testes de coleta dessa secreção são tão confiáveis para detectar a Covid-19 quanto os de esfregaço nasal. Porém, uma questão-chave ainda precisava ser respondida: como o agente infeccioso vai parar na água da boca?

Até então, a hipótese principal para responder a essa pergunta era que o Sars-CoV-2 atinge a saliva a partir da expectoração expelida dos pulmões. Mas isso não ocorre com todo mundo. Existem pessoas que não expectoram o vírus, pois não têm sintomas respiratórios – o que não as impede de abrigar o malfeitor na secreção salivar.

Logo, os pesquisadores acreditam que pelo menos parte do Sars-CoV-2 na saliva é proveniente da própria boca. Para investigar isso melhor, eles analisaram tecidos orais de pessoas saudáveis e pacientes que haviam morrido de Covid-19 só para verificar se as células da boca eram mesmo suscetíveis ao coronavírus.

Isso foi realmente confirmado, pois os experts encontraram, em células das glândulas salivares e em tecidos da boca, o RNA para fabricar as “proteínas de entrada” que são necessárias para o Sars-CoV-2 invadir essas células. São elas: o receptor ACE2 e a enzima TMPRSS2.

“Os níveis de expressão dos fatores de entrada [nas glândulas salivares] são semelhantes aos de regiões conhecidas por serem suscetíveis à infecção por Sars-CoV-2, como o tecido que reveste as passagens nasais das vias aéreas superiores”, explica, em comunicado, o líder do estudo, Blake Warner.

Mas ainda faltava saber se o vírus poderia partir da saliva, infectando as demais áreas do corpo. Os pesquisadores atestaram isso ao coletarem a secreção salivar de oito pessoas com Covid-19 assintomática e a colocarem em células de tecidos corporais saudáveis. A saliva de dois dos voluntários infectou as células.

A equipe coletou então saliva de um grupo separado de 35 voluntários sem manifestações ou com sintomas leves. Das 27 pessoas sintomáticas, aquelas com vírus na secreção salivar eram mais propensas a relatar perda de paladar e olfato. Isso mostra que pode existir alguma relação entre sintomas orais e a infecção por meio da saliva.

“Ao revelar um papel potencialmente subestimado para a cavidade oral na infecção por Sars-CoV-2, nosso estudo poderia abrir novos caminhos investigativos levando a uma melhor compreensão do curso da infecção e da doença”, comenta Warner.

Galileu

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