Putin descarta agora Moeda comum Sugerida por Lula

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O governo de Vladimir Putin considera inviável a adoção no futuro próximo de uma moeda comum dos Brics, bloco integrado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, para transações internacionais. A ideia é defendida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Lula tem sugerido de forma repetida que o Brics adote o mecanismo, aproveitando a onda de desdolarização em transações entre países não alinhados com o Ocidente. A Rússia, sitiada por sanções ocidentais desde que invadiu a Ucrânia em 2022, é um exemplo: hoje ela recebe pelo seu petróleo com desconto em yuans, a moeda chinesa, de compradores indianos.

Pequim tem se favorecido do movimento, com maior presença de sua moeda em negócios na América Latina, por exemplo. Daí a ter uma moeda comum do Brics, ainda mais com a disparidade política entre seus membros, vai um longo caminho.

Os russos, por óbvio, propagandeiam a ideia de que o dólar, padrão das negociações internacionais, está em decadência. “A desdolarização na economia global está avançando sem pausa. O uso de moedas nacionais já é uma realidade, que cresce em escala global”, afirmou. É verdade, mas não na escala que desejaria o Kremlin, ao contrário.

O interesse brasileiro, por sua vez, é de reviver os Brics como entidade alternativa —Lula chegou a decretar a morte política do G7, clube das maiores economias do planeta, excetuando China e Índia. O problema começa, no bloco criado em 2006 e ampliado em 2011 com os sul-africanos, justamente com essa dupla: Pequim e Nova Déli são rivais diretas na Guerra Fria 2.0, com os indianos cada vez mais próximos do Ocidente.

Críticos veem a ambição de Lula como uma tentativa de manter-se relevante no palco internacional, em que promoveu movimentos desastrados ao tentar mediar negociações entre russos e ucranianos. Tem investido na ideia dos Brics, entre fragmentado, particularmente com o instrumento do NDB (Novo Banco de Desenvolvimento, sigla inglesa do banco do bloco), que é dirigido pela ex-presidente Dilma Rousseff (PT).

“Do ponto de vista mundial, os Brics podem ter um papel excepcional. Todo mundo sabe que eu defendo que a gente tenha uma moeda própria para fazer comércio entre os países. Por que o Brasil precisa de dólares para fazer comércio com a Argentina?”, disse Lula em encontro com jornalistas na quarta (2).

Na semana passada, Dilma esteve com Putin às margens de uma cúpula Rússia-África, que visava mostrar ao mundo que o Kremlin não está tão isolado, mas que resultou em críticas de Pretória à saída russa do acordo de exportação de grãos de Kiev no mar Negro e promessas de doações por parte de Moscou a países pobres.

Lá, tocou violino para Putin, falando da necessidade da desdolarização. Ao mesmo tempo, contudo, teve de negar que houvesse qualquer chance de fazer novos negócios do NDB com a Rússia enquanto valerem as sanções ocidentais, já que isso colocaria a solvência da instituição sob risco em caso de punições.

Tudo isso antecede a reunião dos Brics na África do Sul, que ocorre de 22 a 24 deste mês. Ali, o componente político já dá o tom: Putin não irá comparecer para não correr o risco de ser preso, já que os anfitriões são signatários do tratado que criou o Tribunal Penal Internacional, que em março emitiu uma ordem de prisão contra o russo por supostos crimes de guerra.

Segundo a Folha ouviu de diplomatas envolvidos na elaboração do evento, a cúpula pode ter uma baixa ainda mais importante. Narendra Modi, o premiê indiano cortejado no Ocidente, deverá participar como Putin, por meio de videoconferência.

A informação foi divulgada na imprensa indiana no começo desta semana, de forma extraoficial, mas tudo indica que é verdadeira. Confirmada, será uma prova do peso dos Brics das relações no grande jogo da política internacional, dado que a Índia vive um atrito enorme com a China, que vê como rival geopolítica na Ásia —para não falar nos problemas fronteiriços dos países.

Assim, como disse Peskov, a chance de qualquer avanço que não seja discussão sobre moeda única parece mínima. “As conversas irão continuar”, afirmou. Outro tema controverso na mesa é a entrada de novos membros no clube, que só foi expandido uma vez.

Lula tem insistido na entrada argentina, país governador por um aliado esquerdista em grave crise econômica e social. Mas o próprio banco de Dilma já teve de negar ajuda, justamente pelas condições precárias de solvência de Buenos Aires. Na quinta, ele também defendeu a entrada da rica Arábia Saudita no bloco, ao qual outra ditadura, a Belarus aliada de Putin, já fez pedido de adesão.

Folha de SP

 

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